SÉTIMA AULA

O tema matar vidas

Matar vida é um tema bastante sério. Temos um requisito estrito: praticantes não podem matar. Seja na Escola Buda, na Escola Tao ou no sistema Qimen, não importa a escola ou o caminho, todas as práticas de cultivo de Fa reto proíbem matar. Não há dúvida quanto a isso. Matar traz sérias consequências. Vou explicar o tema em detalhes. No ensinamento original de Sakyamuni, matar referia-se principalmente a matar seres humanos; é o mais grave. Mais tarde, matar criaturas grandes ‒ como animais de criação e outras criaturas maiores ‒ também foi considerado grave. Por que no mundo do cultivo matar foi sempre considerado tão seriamente? No Budismo, desde tempos antigos, eles dizem que se alguém que ainda não deveria morrer é morto, ele se torna uma alma solitária, um fantasma desamparado. O antigo ritual de redimir almas é para livrar essas vidas desse estado lastimável. Sem ele, elas sofreriam de fome e sede, a situação seria terrível. É o que é dito desde antigamente no Budismo.

Dizemos que quando alguém faz mal ao outro, ele dá a este uma considerável quantidade de virtude, porém, isso se refere a situações comuns como apossar-se de coisas alheias. Mas, uma vez que alguém tira uma vida, seja a de um animal ou a de outro ser vivente, isso gera grande quantidade de carma. Antigamente, matar referia-se principalmente a tirar a vida humana, pois gera relativamente muito mais carma. Porém o carma gerado ao se matar outros seres viventes também não é pequeno, também gera diretamente bastante carma. Algumas poucas tribulações estão estabelecidas em diferentes níveis especificamente para cada praticante, todas as quais resultam do próprio carma de cada um. São colocadas em diferentes níveis de modo a ajudá-lo a se elevar no cultivo e, à medida que você eleva o xinxing, você se torna capaz de superá-las. Mas, se de repente, uma quantidade de carma tão grande assim fosse colocada sobre você, como você conseguiria superá-lo? Com seu nível de xinxing, você não conseguiria; possivelmente, seria o fim do seu cultivo.

Descobrimos que quando alguém nasce, com ele, nascem muitos outros “ele” dentro de certa uma extensão do espaço cósmico. Todos se parecem, compartilham o mesmo nome e fazem coisas parecidas. Pode-se dizer que são partes da totalidade desse ser. Isso envolve um problema: se alguém (isso também vale para animais um pouco maiores) morre subitamente sem que os outros “ele” em cada uma das outras dimensões tenham completado o curso originalmente arranjado para suas vidas ‒ isto é, tenham ainda anos por viver ‒ esse que morreu ficará desamparado, vagando no espaço cósmico. Antigamente, as pessoas diziam que as almas solitárias e os fantasmas desamparados padecem de fome e de sede, que sofrem muito. Pode ser assim, pois sem dúvida vemos que ele fica em situação lastimável enquanto fica à espera de seu destino final, enquanto aguarda que todos os “ele” nas outras dimensões terminem o curso de suas vidas. E quanto mais tempo isso dura, mais ele sofre e, quanto mais sofre, mais carma é gerado, o qual é continuamente acrescentado ao corpo de quem o matou. Imagine o quão grande seria o carma adicionado a você? É o que vemos por meio de capacidades sobrenaturais.

Também observamos esta situação: quando uma pessoa nasce, o perfil de sua vida inteira já existe numa certa dimensão, ou seja, o que ela fará ao longo de sua vida já está lá nessa dimensão. Está tudo lá. Quem organiza a vida desse modo? Obviamente são vidas de níveis mais elevados. Por exemplo, em nossa sociedade de pessoas comuns, depois de nascer, a pessoa fará parte de uma certa família, estudará em determinadas escolas, e quando adulta, trabalhará em certos locais. Por meio do trabalho e da vida social, ela estabelecerá diversos relacionamentos sociais. Em outras palavras, a sociedade inteira é planejada desse modo. Mas se uma vida morrer inesperadamente, ou seja, se essa morte não ocorrer conforme planejada, as coisas são alteradas e, por isso, as vidas de níveis mais elevados que organizaram essas coisas punirão quem bagunçou o que elas planejaram. Pensem: cultivadores querem cultivar para níveis elevados, mas, se essas vidas de nível mais elevado punirem quem matou, como ele poderá cultivar depois disso? O nível de alguns mestres nem sequer chega ao dessas vidas que planejam essas coisas, por isso, o mestre da pessoa também sofrerá as consequências e será lançado a um nível mais baixo. Pensem: é um problema comum? Por isso, uma vez que alguém faz algo assim, fica muito difícil cultivar.

Alguns de vocês, estudantes do Falun DaFa, possivelmente combateram em tempos de guerra. Essas guerras são um tipo de estado decorrente de grandes mudanças celestiais de abrangência geral e você é apenas um elemento dentro desse tipo de estado. Se sob efeito dessas mudanças celestiais ninguém atuasse, tal estado não poderia ser trazido à sociedade das pessoas comuns nem poderíamos chamá-lo de mudança celestial. Esses eventos decorrem de grandes mudanças, por isso, é algo que não pode ser inteiramente colocado em sua conta. Aqui, quando falamos de carma, falamos do carma acumulado devido à obstinação por se fazer coisas más na busca de interesses pessoais, devido a motivos egoístas e a tudo mais relacionado diretamente à própria pessoa. Mas quando decorre de mudanças celestiais que afetam todos, quando resultam em grandes mudanças no estado geral da sociedade, não é assunto de sua responsabilidade.

Matar vidas gera enorme carma. Talvez alguém esteja pensando: “Não posso matar, mas sou eu que preparo a comida em casa. O que minha família comerá se eu não matar animais?”. Não falo de assuntos específicos. Estou aqui para ensinar o Fa aos praticantes, não para ensinar a pessoas comuns como viverem suas vidas. Ao lidar com assuntos específicos, você deve avaliá-los com o DaFa e fazer o que julgar ser mais apropriado. Pessoas comuns fazem o que elas desejam fazer; lidam com as coisas como pessoa comum. É impossível que todos cultivem genuinamente. Porém, por ser um praticante, você deve exigir de si mesmo cumprir padrões elevados; os requisitos que exponho aqui são para praticantes.

Seres humanos, animais e plantas não são os únicos que têm vida. Qualquer matéria manifesta vida em outras dimensões. Quando seu tianmu alcança o nível da visão-Fa, você descobre que as pedras e as paredes também falam, que as coisas cumprimentam você, falam com você. Alguém talvez esteja pensando: “O que fazer já que os cereais e as verduras que comemos também têm vida? Além disso, há moscas e mosquitos em casa. O que fazer? É um incomodo ser picado por mosquitos no verão; teremos que ficar olhando isso sem reagir? E quanto às moscas que pousam sobre a comida contaminando-a, teremos que ficar vendo as moscas fazendo isso sem poder matá-las”. Digo a todos que não podemos tirar vidas casualmente, sem razão. Contudo, não devemos nos tornar cavalheiros cautelosos demais, sempre focados em coisas triviais, andando aos pulos com medo de pisar em formigas. Digo que viver assim faz da vida um fardo. Não é também um apego? Mesmo que você caminhe aos pulos para não pisar em formigas, possivelmente muitos microrganismos morram quando você, pulando, pisa neles. No nível microscópico existem incontáveis vidas, como os fungos e as bactérias, e não são poucas as que morrem quando você pisa. Nesse caso, não poderíamos viver. Não queremos ser esse tipo de gente; não há como cultivar assim. Devemos ver as coisas de uma perspectiva ampla e cultivar de maneira grandiosa, digna e reta.

Como seres humanos, temos o direito de manter a vida humana, por isso, o ambiente em que vivemos deve atender às necessidades da vida humana. Não podemos prejudicar vidas intencionalmente, mas também não podemos nos restringir demais por coisas menores. Por exemplo, vegetais e cereais têm vida, porém, não podemos deixar de comer e beber por causa disso, de outro modo, como poderíamos praticar? Devemos ter um olhar mais amplo. Por exemplo, quanto você caminha na rua, formigas e outros insetos que foram para onde você pisará possivelmente morram. Naturalmente, eles teriam que morrer, porque você não os matou intencionalmente. No campo da biologia e da microbiologia, eles falam de equilíbrio ecológico; uma quantidade excessiva torna-se uma infestação. Falamos de cultivar de maneira grandiosa, digna e reta. Se há moscas e mosquitos em nossas casas, podemos afugentá-los e instalar telas que os impeçam de entrar. Mas nem sempre conseguimos expulsá-los do local, então, se precisarmos matá-los não será um problema. Se eles picam ou prejudicam as pessoas no espaço onde elas vivem, certamente podemos expulsá-los e, se não conseguirmos expulsá-los, não podemos ficar olhando eles picarem pessoas. Você é praticante, não os teme e é imune a eles, mas seus familiares não são praticantes; eles são pessoas comuns e podem pegar doenças contagiosas. Não podemos ficar olhando um mosquito picar o rosto de uma criança, sem fazer nada.

Vou dar um exemplo; há uma história sobre Sakyamuni em seus primeiros anos. Um dia, Sakyamuni estava no bosque e quis tomar um banho. Ele pediu a um de seus discípulos que limpasse a banheira. O discípulo foi até a banheira, mas ela estava cheia de vermes se arrastando por todos os lados. Se limpasse a banheira, ele mataria os vermes. O discípulo voltou e disse a Sakyamuni: “Mestre, a banheira está cheia de vermes”.  Sem olhar para o discípulo, Sakyamuni disse: “Vá e limpe a banheira”. O discípulo foi novamente até a banheira, mas não havia como limpá-la sem matar os vermes. Ele voltou outra vez e disse a Sakyamuni: “Venerável Mestre, a banheira está cheia de vermes e, para limpá-la, terei de matá-los”. Sakyamuni olhou para ele e disse: “O que eu pedi para você fazer foi limpar a banheira”. O discípulo entendeu no mesmo instante e, logo em seguida, limpou a banheira. Essa história esclarece um princípio: não temos que deixar de tomar banho por causa de vermes nem buscar outro lugar para viver só porque há mosquitos; tampouco devemos fechar a garganta e deixar de comer e beber só porque os cereais e as verduras também têm vida. Não é assim. Devemos encontrar um equilíbrio nessas questões e cultivar de forma grandiosa, digna e reta. Não podemos prejudicar vidas intencionalmente e, ao mesmo tempo, o ser humano deve ter um ambiente adequado para viver e manter uma vida normal.

No passado, falsos mestres de qigong disseram: “É permitido matar no primeiro e no décimo quinto dia do mês do calendário lunar chinês”. Alguns deles até afirmaram: “É permitido matar animais de duas patas”, como se animais de duas patas não fossem vidas. Se matar no primeiro ou no décimo quinto dia do mês não é matar, é o que então? “Escavar a terra?”. Os falsos mestres de qigong podem ser identificados por suas palavras e ações, por aquilo que dizem e buscam. Os mestres de qigong que dizem essas coisas geralmente estão possuídos por futi. Basta olhar o modo como esses mestres de qigong com futi de raposa comem uma galinha: eles a devoram, engolem-na como um tigre e não querem sequer cuspir os ossos.

Matar vidas além de produz enorme carma envolve a questão de ter um coração de misericórdia. Cultivadores devem ter misericórdia, não é? Quando a misericórdia emerge em nós, podemos ver que todas as vidas estão sofrendo, podemos sentir que todos estão sofrendo. Isso ocorre.

O tema comer carne

O tema comer carne também é delicado, mas comer carne não é o mesmo que matar. Embora muitos de vocês já estudem o Fa há bastante tempo, não exigimos que parem de comer carne. Há muitos mestres de qigong que, assim que você entra na sala de aula, lhe dizem: “A partir de agora você não pode mais comer carne”. Talvez você pense: “Não estou preparado mentalmente para deixar de comer carne tão de repente”. Talvez a comida a ser servida hoje em sua casa seja um frango ou um peixe assado e, embora o cheiro seja apetitoso, você não poderia comê-la. No cultivo religioso, eles também obrigam os praticantes a parar de comer carne. Nas práticas da Escola Buda em geral e em algumas práticas da Escola Tao, eles também proíbem comer carne. Aqui não exigimos isso, porém também é um tema do qual devo falar. O que tenho a dizer sobre isso? Em nosso método de gong, o Fa refina o praticante, por isso, alguns estados se manifestam a partir do gong e do Fa. Durante a prática surgem diferentes estados em diferentes níveis. Um dia, ou depois da minha aula de hoje, possivelmente alguns de vocês entrem num estado em que não consigam comer carne, um estado de repugnância ao cheiro de carne, de sentir ânsia de vômito ao colocar carne na boca. Ninguém o obriga a não comer carne nem você tem que se conter para não a comer, em vez disso, é algo que vem do coração. Ao chegar a esse nível, como efeito de seu gong, você não conseguirá comer carne, pois se comê-la, seguramente vomitará.

Os nossos estudantes veteranos sabem que esse estado pode surgir no cultivo do Falun DaFa, que nos diferentes níveis manifestam-se diferentes estados. Temos estudantes que gostam muito de comer carne, que estão bastante apegados à carne e que habitualmente comem bastante carne. Enquanto os outros sentem esse estado de repugnância à carne, eles não; eles conseguem comê-la. O que fazer então para que abandonem esse apego? Se comerem carne, eles sentirão dor de estômago, e se não comerem, não sentirão. Se esse estado se manifestar em você, significa que você não deve comer carne. Isso quer dizer que daí em diante esses praticantes terão de evitar a carne? Não é assim. Como lidamos com isso? Quando você não puder comer carne, isso virá verdadeiramente do fundo do coração. Com que propósito? Tanto a abstinência à carne imposta nos monastérios como esse tipo de estado que surge no nosso caminho e que o impede de comer carne têm como objetivo eliminar o desejo e apego humano de comer carne.

Alguns não querem comer se não há carne em seus pratos; é um desejo de pessoa comum. Numa manhã, quando eu passava pelo portão dos fundos do Parque do Triunfo na cidade de Changchun, três pessoas estavam saindo por lá falando alto. Uma delas disse: “Que tipo de prática de qigong é essa que proíbe comer carne? Prefiro dar dez anos de minha vida a deixar de comer carne!”. Que desejo forte!  Pensem todos: esse desejo não deve ser descartado? Deve definitivamente ser descartado! O processo de cultivo é justamente para descartar todo tipo de desejo e apego. Para ser claro, se o desejo de comer carne não foi eliminado, não significa que o apego ainda existe? Assim, como é possível alcançar a perfeição no cultivo? Sempre que houver um apego, ele terá de ser eliminado. Mas isso não quer dizer que você nunca mais poderá comer carne. O propósito não é esse: é fazer você eliminar o apego. Depois de o apego ser eliminado durante período em que não puder comer carne, você possivelmente consiga comê-la depois, pois seu cheiro e sabor já não lhe causarão aversão. Então, comer carne não será um problema.

Quando puder comê-la novamente, é porque o apego e desejo de comê-la já terão desaparecidos. No entanto, ocorre uma grande mudança: ao comê-la de novo, já não será saborosa ou terá sabor. Se servirem carne em sua casa, você poderá comê-la com seus familiares, no entanto, a carne não lhe fará falta nas refeições, pois já não lhe despertará o apetite. Essa mudança ocorre, mas como o cultivo entre as pessoas comuns é complicado, se em sua casa sempre servirem carne nas refeições, com o tempo, você possivelmente voltará a senti-la saborosa. Isso pode ocorrer repetidamente durante o processo de cultivo. De repente, você não conseguirá comê-la. Quando não puder comê-la, não coma. Você realmente não será capaz de comê-la e, se tentar comê-la, vomitará. Quando puder comê-la, siga o curso natural. Não comer carne não é em si o propósito; o ponto-chave é eliminar o apego.

Neste nosso caminho Falun DaFa é possível fazer progressos rapidamente; ao elevar seu xinxing, você ultrapassa rapidamente cada nível. Há pessoas que naturalmente não têm forte apego à carne e pouco lhes importa comer ou não carne. Para essas pessoas, leva de uma a duas semanas para desgastar o apego até que desapareça. Para outras, é necessário de um a três meses, talvez meio ano. Exceto em casos bem especiais, não leva mais que um ano para poder comê-la novamente. A carne tornou-se um item básico da alimentação humana. Entretanto, os cultivadores que vivem em templos ou monastérios não podem comer carne.

Falemos um pouco do entendimento do Budismo sobre comer carne. Nos ensinamentos originais do Budismo não havia a proibição de comer carne. Naqueles tempos, quando Sakyamuni conduzia seus discípulos para cultivarem penosamente nas florestas, não havia o preceito que proibia comer carne. Por quê? Quando Sakyamuni ensinou seu Fa há mais de dois mil e quinhentos anos, a sociedade humana era pouco desenvolvida. Não era em todas as regiões que havia plantações; a terra cultivável era pouca, havia florestas por todos os lados e o suprimento de grãos era escasso. Recém-saídos de uma sociedade primitiva, as pessoas viviam basicamente da caça e, em muitas regiões, a carne era o alimento básico. Para que seus discípulos abandonassem ao máximo seus apegos, Sakyamuni não permitia que eles tivessem dinheiro ou bens materiais. Sakyamuni levava seus discípulos a mendigar comida. Eles comiam o que lhes dessem, pois como cultivadores, não deviam escolher o que comer. Comiam o que lhes era dado e nisso possivelmente havia carne.

No Budismo original havia a abstinência hun, ou seja, não comer determinados alimentos vem dos ensinamentos originais do Budismo e atualmente inclui a carne. Na realidade, naquela época, a carne não estava entre os alimentos hun, mas sim a cebolinha, o gengibre e o alho. Por que esses alimentos eram considerados hun? Atualmente os monges não sabem mais o porquê disso. A maioria dos monges não cultiva realmente, por isso há muitas coisas que eles não sabem. O método que Sakyamuni ensinou consiste em preceito, concentração e sabedoria. Preceito implica abster-se de todos os desejos de pessoa comum; concentração significa praticar em estado de transe e isso requer meditar de pernas cruzadas em profunda concentração. Tudo que perturbasse o estado de concentração na prática era considerado uma grave interferência. Quando alguém comia cebolinha, gengibre ou alho, exalava um forte odor. Naquela época, costumeiramente, ao meditar de pernas cruzadas nas florestas ou nas cavernas, os monges se sentavam formando círculos de sete ou oito pessoas, formavam vários círculos. Se alguém comesse essas coisas, produziria um odor penetrante que afetava a concentração dos outros durante a meditação, que atrapalhava seriamente a prática dos outros. Por isso, no Budismo existe o preceito que proíbe comer alimentos considerados hun. Odores fortes incomodam os incontáveis seres que se manifestam no corpo humano durante o cultivo. Além disso, comer excessivamente cebolinha, gengibre ou alho também pode estimular desejos humanos, pode se tornar um hábito vicioso. É por isso que foram considerados hun.

No passado, muitos monges, depois de alcançarem níveis elevados por meio do cultivo, em estado de iluminação completa ou semi-iluminação, também perceberam que, na realidade, o preceito em si mesmo não é o que importa no processo de cultivo, pois quando o apego é descartado, o aspecto material deixa de ter efeito. O que realmente interfere com o praticante é o apego. Ao longo da história, vários monges de níveis elevados também entenderam que não comer carne não é o ponto-chave, que o ponto-chave é poder abandonar o apego, que, quando não se tem o apego, não importa o que se come para encher o estômago. Mas como os monges cultivam nos monastérios há muito tempo dessa maneira, as pessoas já se acostumaram a isso, além disso, não comer carne deixou de ser um preceito e tornou-se regulamento nos monastérios. Eles não comem carne; eles se acostumaram a cultivar desse modo. Falemos do monge Jigong, que é muito citado nas obras literárias por ter comido carne. Monges não podem comer carne, mas ele comeu carne e por isso se tornou muito conhecido. De fato, quando Jigong foi expulso do Monastério Lingyin, obter comida tornou-se naturalmente um grande problema para ele. Sua sobrevivência dependia disso. Para encher o estômago, ele comia qualquer coisa que encontrasse; ele só queria encher o estômago, não tinha apego a nenhuma comida em particular, qualquer comida servia. Por ter cultivado até esse ponto, ele compreendeu o princípio. Na realidade, Jigong só comeu carne em uma ou duas ocasiões, porém ouvir que um monge comeu carne desperta o interesse dos escritores, porque, quanto mais chamativo é algo, mais as pessoas querem ler sobre isso. As obras literárias se baseiam na vida e vão além da vida e, assim, os escritores deram publicidade a Jigong. Na realidade, se o apego foi descartado de fato, o que comemos não importa.

No Sudeste da Ásia e no Sul da China, particularmente nas províncias de Guangdong e Guangxi, alguns budistas leigos não dizem que cultivam o estado-buda, porque consideram que o termo cultivar como antiquado. Eles dizem que comem comida budista ou que são vegetarianos. Com isso, querem dizer que, por serem vegetarianos, eles cultivam o estado-buda. Eles veem o cultivo do estado-buda como algo simples assim. Como alguém conseguiria cultivar o estado-buda só porque é vegetariano? Como vocês sabem, o apego de comer carne, um desejo humano, é apenas um dos muitos apegos a serem eliminados. É preciso descartar também apegos como a inveja, a competitividade, a complacência, a ostentação – todo tipo de apego humano. São muitos os apegos. Só eliminando todos os apegos e desejos é que se pode alcançar a perfeição no cultivo. Como alguém conseguiria cultivar o estado-buda só porque eliminou o apego de comer carne? Essa ideia não é correta.

No que se refere a comer, não se deve ter apego à carne ou a qualquer outra comida. Isso se aplica também a outras coisas. Alguns dizem que gostam de comer um tipo de comida em especial, mas isso também é um desejo. Depois que alcança certo nível, o cultivador não tem esse apego. Claro, o Fa que ensino é muito elevado e é ensinado integrando diferentes níveis. É impossível alcançar esse nível imediatamente. Se você gosta de comer uma determinada comida, quando o seu cultivo atingir o nível em que esse apego tiver que ser eliminado, você simplesmente não conseguirá comê-la. Se você comê-la, não terá sabor ou terá um sabor estranho. A cantina de uma empresa onde trabalhei sempre dava prejuízo e teve que ser fechada. Todos passaram a levar a própria refeição. No entanto, preparar comida de manhã e sair apressadamente para ir trabalhar tinha inconvenientes. Passei a comprar e a levar dois pães cozidos no vapor e um pedaço de tofu com molho de soja. Em princípio, não deveria haver nenhum problema com uma refeição simples e leve assim, mas comer sempre a mesma coisa não é correto; era um apego que tinha que ser removido. Assim que via tofu, eu sentia acidez, não podia comê-lo. Isso aconteceu para evitar que eu desenvolvesse um apego. Claro, isso só acontece depois que se alcança certo nível no cultivo; não ocorre no começo.

Na Escola Buda não é permitido beber álcool. Alguém já viu um buda carregando uma jarra de vinho? Nunca. Eu disse que quando você não conseguir comer carne, poderá voltar a comê-la sem problema depois que eliminar esse apego no seu cultivo entre as pessoas comuns. Entretanto, depois que se deixa de beber álcool, é para sempre. Não há gong nos corpos dos praticantes? Há todo tipo e forma de gong. Várias capacidades sobrenaturais se manifestam na superfície do corpo e são todas puras. Quando você bebe álcool, 'uhh', todas se afastam de seu corpo. Num instante, todas deixam o corpo, pois elas não suportam o cheiro do álcool. Além disso, o hábito de beber álcool é abominável, pois interfere em sua natureza. Por que em alguns grandes caminhos de cultivo taoistas eles bebem álcool? É porque eles não cultivam o espírito-original-principal; eles bebem álcool para que o espírito-original-principal perca a consciência.

Há pessoas que amam o álcool tanto quanto suas vidas. Algumas bebem álcool por prazer, outras por vício; bebem tanto que se intoxicam; algumas nem sequer querem comer se não há bebida alcoólica na mesa. Não conseguem ficar sem beber. Nós, praticantes, não nos comportarmos dessa maneira. Beber álcool é viciante; é um desejo que estimula os nervos do vício. Quanto mais a pessoa bebe, mais viciada fica. Você é um praticante, então pense um pouco: você não deve eliminar esse apego? É um apego que você também deve eliminar. Talvez alguém esteja pensando: “Não dá, pois sou o responsável por receber os clientes” ou “Sou o responsável pelos negócios no exterior e é difícil fazer reuniões de negócio sem que se beba álcool”. Digo que não é necessariamente assim, pois quando se conversa de negócios, especialmente com estrangeiros, você pode pedir um refresco, ele uma água mineral e o outro uma cerveja. Ninguém o forçará a beber álcool, você poderá escolher o que quiser e beber o quanto quiser. Especialmente entre pessoas bem-educadas, ninguém o forcará; geralmente é assim.

Fumar também é um apego. Alguns dizem que fumar restaura o ânimo; digo que isso é enganar a si mesmo e os outros. Algumas pessoas, quando se sentem cansadas de fazer uma atividade ou de escrever algo, fazem uma pausa para relaxar e fumar um cigarro; elas se sentem revigoradas depois de fumar. Na realidade, isso não é devido a terem fumado e sim à pausa para relaxar. A mente humana cria esse tipo de impressão ilusória associativa que, com o passar do tempo, resulta na noção de que fumar revigora. Fumar não pode revigorar, não tem esse efeito. Fumar não faz bem ao corpo humano. Quando um médico faz uma necropsia em alguém que fumou durante anos, ele vê que a traqueia e os pulmões estão totalmente pretos.

Nós que refinamos gong queremos purificar o corpo? Devemos continuamente purificar nossos corpos de modo a podermos progredir para níveis mais elevados. Se você coloca impurezas em seu corpo, você não está indo na direção oposta? Além disso, fumar também é um forte desejo. Há pessoas que, mesmo sabendo que fumar é prejudicial, simplesmente não conseguem deixar de fumar. Digo que não é fácil deixar de fumar quando não se é guiado por pensamentos retos. Considere-se um cultivador, trate isso como um apego a ser removido e você verá que consegue. Aconselho a todos que querem realmente cultivar que, a partir de agora, deixem de fumar. Garanto que vocês conseguirão. No campo desta aula, ninguém pensa em fumar. Se você quer realmente deixar de fumar, então, com certeza, você pode fazê-lo. Quando você fumar um cigarro, você não sentirá nenhum sabor. Ler este capítulo do livro produz o mesmo efeito. Claro, se você não quer cultivar, nós não cuidaremos disso, contudo, digo que você deve deixar de fumar se você é um cultivador. Certa vez, dei o seguinte exemplo: “Alguém já viu um buda ou um tao sentado com um cigarro na boca?”. Como isso seria possível? Sendo um cultivador, você não deve ter como um objetivo parar de fumar? Se você quer cultivar, então deixe de fumar. Fumar faz mal ao corpo e, além disso, é um desejo. É justamente o contrário do que nossos cultivadores devem fazer.

O coração de inveja

Quando ensino o Fa, geralmente falo da inveja. Por quê? É porque o coração de inveja se manifesta de forma muito intensa na China. É algo tão intenso e habitual, que as próprias pessoas já não o percebem. Por que os chineses são tão invejosos? Isso também tem raízes. No passado, o povo chinês foi fortemente influenciado pelo Confucionismo, por isso, os chineses desenvolveram um caráter bastante introvertido. Quando estão com raiva, não expressam; quando estão felizes, não expressam. Os chineses falam de autodomínio e tolerância. Educados desse modo, nosso povo desenvolveu um caráter bastante introvertido. Claro, esse caráter tem aspectos positivos e um deles é não exibir qualidades internas, porém, também tem aspectos negativos que podem levar a estados negativos. Particularmente no período final do Fa, esses aspectos negativos tornaram-se evidentes e ressaltaram a inveja. Quando alguém fala de algo bom que lhe aconteceu, os outros imediatamente sentem inveja. As pessoas até receiam falar de bonificações e outros ganhos obtidos no trabalho ou fora dele, porque os outros perdem o equilíbrio emocional ao saberem disso. A Ásia inteira foi, em maior ou menor grau, influenciada pelo Confucionismo da China, porém a inveja mostra-se mais intensa na China.

Essa inveja também está relacionada à doutrina do igualitarismo absoluto imposta no passado: “Aconteça o que acontecer, se o céu desabar, todos devem morrer”, “Se há um benefício, deve ser repartido de modo a que todos recebam partes iguais”, “Se alguém tiver um aumento salarial, todos devem ter direito a esse aumento”. Aparentemente, tal mentalidade parece correta ao tratar todos igualmente, mas como todos podem ser iguais? Os trabalhos são diferentes e as responsabilidades exercidas também. Em nosso universo há um princípio: “Sem perda não há ganho”. Para ganhar é preciso perder. As pessoas comuns dizem: “Quem não trabalha não ganha”, “Quem trabalha mais deve ganhar mais, quem trabalha menos deve ganhar menos”, “Quem se sacrifica mais, deve ganhar mais”. O igualitarismo absoluto do passado sustentava que todos os seres humanos nascem iguais e que é a vida depois do nascimento que torna as pessoas diferentes. Digo que essa afirmação é extremada e qualquer coisa tornada absoluta é incorreta. Por que alguns nascem homens e outros nascem mulheres? Por que não possuem a mesma aparência? Alguns nascem doentes ou deformados. Não são iguais. Da perspectiva de níveis elevados, podemos ver que a vida inteira de uma pessoa já está disposta lá em outra dimensão. Como podem ser iguais? Todos desejam a igualdade, mas há coisas que não fazem parte da vida da pessoa, então, como a igualdade pode ser possível? As pessoas não são iguais.

O caráter dos ocidentais é relativamente extrovertido. Os ocidentais expressam a alegria e o descontentamento que sentem. Esse caráter tem aspectos positivos, mas também tem aspectos negativos, o que inclui não ser comedido, moderado. A mentalidade dos ocidentais é diferente da dos orientais e, no dia a dia, produz resultados diferentes. Os chineses perdem o equilíbrio emocional se alguém é elogiado ou tratado de modo especial pelo chefe. Quando um chinês ganha um bônus, ele o esconde discretamente no bolso para que os outros não vejam. Hoje em dia, é difícil até mesmo ser um trabalhador exemplar: “Você é um trabalhador modelo, é tão bom no trabalho, então, deve ser o primeiro a chegar e o último a sair”, “Já que você trabalha mais e melhor que todos nós, faça todo o trabalho por nós”. Há todo tipo de comentários sarcásticos e cínicos; hoje em dia, não é fácil ser uma boa pessoa.

Em outros países, é diferente. Quando um chefe dá uma bonificação a um empregado que teve bom desempenho, o empregado pode contar alegremente o dinheiro na frente de todos: “Uau, hoje meu chefe me premiou! ”. Ele pode falar aberta e alegremente disso sem receio. Na China, se você ganhar um prêmio como reconhecimento, até mesmo o chefe pedirá que você esconda o dinheiro para que os outros não vejam. Nos países ocidentais, quando um menino tira nota dez na escola, ele volta alegremente para casa falando alto para que todos ouçam: “Hoje eu tirei nota dez! Tirei dez na prova!”. Um vizinho abrirá a porta e dirá: “Olá Toninho, muito bem! Bom garoto!”. Outro abrirá a janela e dirá: “Oi, Pedrinho, parabéns! Muito bem!”. Mas se isso acontecer na China, um menino que volta da escola falando alto “Hoje eu tirei nota dez! Eu tirei dez na prova!”, será péssimo. Antes mesmo de abrir a porta, o vizinho começará a esbravejar: “O que há de especial em tirar nota dez? Por que fazer alarde só por causa disso?! Quem nunca tirou nota dez?”. Duas mentalidades diferentes que produzem resultados diferentes. Coisas assim comumente causem inveja. Quando algo de bom acontece aos outros, em vez de as pessoas ficarem contentes, isso as desequilibra emocionalmente. É o que ocorre.

Há alguns anos, o igualitarismo absoluto praticado na China confundiu os pensamentos e valores dos chineses. Dou um exemplo específico: uma pessoa sente que os outros não são tão capazes quanto ela é no trabalho. Ela faz tudo muito bem; ela se considera excepcional. Em seu coração, ela pensa: “Tenho qualificação para ser gerente ou diretor da empresa, ou para assumir um cargo mais alto ainda; posso ser o primeiro-ministro”. Provavelmente, o chefe dela também diga que ela é realmente competente, que faz tudo muito bem. Seus colegas de trabalho consideram-na competente e talentosa. Porém, em seu local de trabalho ou até mesmo entre as pessoas de sua equipe de trabalho, há alguém que não faz nada bem e que não assume responsabilidades. Um dia, apesar de ser incompetente, é ele que é promovido a  chefe e inclusive torna-se seu chefe. A pessoa desequilibra-se emocionalmente, não aceita isso, vai falar com todos para tentar reverter a situação; indignada, ela se queixa a todos, fica com muita inveja.

Falarei agora de um princípio que as pessoas comuns não entendem. Você pode ser competente, mas é algo que não está em sua vida; a outra pessoa é incompetente, porém é algo que foi arranjado para a vida dela, por isso, ela que foi promovida. O que uma pessoa comum pensa não importa, é apenas o ponto de vista de uma pessoa comum. Da perspectiva das vidas de níveis mais elevados, a sociedade humana desenvolve-se justamente de acordo com a ordem e as leis que determinam seu desenvolvimento. A vida de uma pessoa não é planejada em função de sua competência. No Budismo, eles falam do princípio da retribuição do carma, que a vida de uma pessoa é arranjada de acordo com o seu carma. Não importa o quão competente você é, se você não tem virtude, possivelmente não terá nada nesta vida. Você considera que ele é incompetente, porém ele tem muita virtude e é por isso que é ele que tem um alto cargo e é rico. Uma pessoa comum não pode ver esse ponto e sempre acha que deve fazer algo à altura de sua competência. Por isso, compete e briga durante a vida toda. Seu coração sofre bastante, ela vive amargurada e esgotada; seu coração está sempre desequilibrado. Ela não come nem dorme bem; vive frustrada. Na velhice, ela já terá arruinado sua saúde, terá várias doenças.

Nós, cultivadores, não devemos nos comportar assim. Um cultivador deve seguir o curso natural. Se algo é seu, você não o perderá; se algo não é seu, você não o terá por mais que lute por isso. Claro, também não é algo absoluto. Se fosse absoluto, não haveria a questão de as pessoas fazerem coisas erradas. Em outras palavras, há alguns fatores instáveis. Claro, por ser um cultivador, em princípio, você está sob os cuidados dos Fashens do Mestre e, por mais que os outros queiram tirar o que é seu, eles não conseguirão. Falamos de seguir o curso natural. Às vezes, você pensa que algo é seu e inclusive os outros dizem que é seu, mas na realidade não é. Possivelmente você considerará que é seu, quando no final das contas, não é. Nesse caso, você é provado para ver se pode ou não abrir mão de algo; se não puder, então, é um apego. É um dos métodos que usamos para remover o apego de buscar benefícios pessoais. Essa é a ideia. Como as pessoas comuns não podem se iluminar a esse princípio, elas competem e brigam por benefícios pessoais.

Entre as pessoas comuns, o coração de inveja manifesta-se de forma intensa. No mundo do cultivo, a inveja manifesta-se também de maneira marcante. Não há respeito entre praticantes de práticas de qigong diferentes: “Sua prática é boa”, “A prática dele não é boa”. Há elogios e críticas, há todo tipo de comentário. A meu ver, todas essas práticas são do nível de curar doenças e fortalecer o corpo. Práticas que competem entre si foram trazidas por futis e têm gong caótico; elas não falam de xinxing. Suponha que alguém tenha praticado qigong durante mais de vinte anos sem manifestar capacidades sobrenaturais e que outra pessoa manifeste algumas pouco depois de ter começado a praticar. Ele pensará que é injusto e seu coração se desequilibrará: “Pratico qigong há mais de vinte anos e ainda não tenho nem uma capacidade sobrenatural, no entanto, ela já tem. Que capacidades sobrenaturais são essas?”. Ele ficará furioso: “Essa pessoa tem futi! É insanidade de cultivo!”. Enquanto um mestre de qigong realiza uma palestra, alguém sentado lá diz com desdém e desrespeito: “Ih! Que tipo de mestre de qigong é esse? Não estou nem um pouco interessado em ouvir o que ele diz”. Talvez esse mestre de qigong não saiba falar tanto quanto essa pessoa, no entanto, ele ensina só o que é de seu caminho de cultivo, enquanto essa pessoa aprendeu de tudo um pouco, tem pilhas de certificados de conclusão de curso e foi a cursos de vários mestres de qigong. Sem dúvida ela fala de mais coisas que esse mestre de qigong, mas para que servem? Só servem para eliminar doenças e fortalecer o corpo. Quanto mais ela se enche dessas coisas, mais prejudiciais, desordenadas e complicadas são suas mensagens e mais difícil fica para ela cultivar. Bagunça tudo. Na genuína prática de cultivo fala-se de se dedicar a um único caminho, de não pegar nenhum desvio. Entre os que genuinamente cultivam o Tao, também há o desrespeito mútuo. Enquanto houver o apego de competir, ele poderá facilmente produzir e alimentar o coração de inveja.

Vou falar sobre uma história. No livro “Investidura dos Deuses”, a Venerável Divindade da Origem envia Jiang Ziya para conceder títulos aos Deuses. Isso desequilibra o coração de Shen Gongbao, pois ele considera que Jiang Ziya é velho e incompetente. “Por que mandar Jiang Ziya conceder títulos aos Deuses? Veja como eu, Shen Gongbao, sou poderoso! Se arrancarem minha cabeça, eu posso colocá-la de volta. Por que então não me escolheram para conceder títulos aos Deuses?”. Ele era muito invejoso e sempre causava problemas a Jiang Ziya.

No Budismo original, na época de Sakyamuni, eles tinham capacidades sobrenaturais, porém no Budismo atual ninguém mais ousa falar disso. Se você falar, dirão que você tem insanidade de cultivo. “Capacidades sobrenaturais?”, eles não admitem isso. Por quê? Os monges de hoje pouco sabem sobre capacidades sobrenaturais. Sakyamuni teve dez discípulos principais e Mujianlian foi considerado como o primeiro em poderes divinos. Sakyamuni também teve discípulas e Lianhuase foi considerada como a primeira em poderes divinos. Depois que o Budismo foi introduzido na China, ainda surgiram gerações de monges com talentosas capacidades. Quando Bodhidharma estava vindo para a China, ele cruzou um rio apoiado apenas sobre um talo de junco. Entretanto, durante o decorrer da história, ter poderes divinos foi cada vez menos aceito. A principal razão para isso é que os monges superiores e os abades que dirigem os monastérios não possuem necessariamente grande qualidade-inata. Abade e monge superior são cargos como os das pessoas comuns. Eles também são cultivadores, só que eles cultivam exclusivamente nos monastérios enquanto você cultiva em meio à sociedade. Ter ou não êxito no cultivo depende de cultivar o coração; é igual para todos. Faltar pouco não adianta. Contudo, o monge menor que cuida da lareira e da preparação das refeições não tem necessariamente qualidade-inata pequena. Quanto mais dificuldades ele suporta, mais fácil é para ele abrir o gong. E quanto mais comodamente vive o monge superior, mais difícil é para ele abrir o gong, pois há a questão da transformação do carma. O monge menor sempre trabalha árdua e exaustivamente, e assim pode pagar rapidamente por seu carma. Então subitamente, um dia, o gong do monge menor se abre e, em estado de iluminação ou semi-iluminação, ele manifesta poderes divinos. Todos os monges do monastério vão consultá-lo e reverenciá-lo. O monge superior não aceita isso, pois como continuará como monge superior depois disso? “Que iluminação que nada! É insanidade de cultivo, expulsem-no do monastério”. E assim o monge menor é expulso do monastério. Com o passar do tempo, no Budismo na China, ninguém mais ousa falar de capacidades sobrenaturais. Vejam como Jigong tinha grandes capacidades sobrenaturais. Ele podia transportar troncos de árvores desde o Monte Emei; podia jogar toras de madeira, uma após a outra, para fora de um poço, mas, do mesmo modo, ao final, foi expulso do Monastério Lingyin.

O problema do coração de inveja é muito grave e envolve diretamente a questão de poder ou não alcançar a perfeição. Enquanto a inveja não for eliminada, tudo o que você cultivar será frágil. Há uma regra: se alguém não eliminar o coração de inveja durante o cultivo, não poderá obter fruto-reto – não poderá obter. Talvez você tenha ouvido que, no passado, Buda Amitabha falou sobre ir com carma para o paraíso. Porém, isso não é possível sem antes eliminar o coração de inveja. É possível ter uma pequena deficiência em um ou outro aspecto e algum carma, e ainda assim, chegar ao Paraíso mediante um cultivo posterior. Mas sem remover o coração de inveja é impossível. Hoje digo a todos os praticantes que não se iludam; despertem para este problema. A meta é cultivar para níveis elevados. O coração de inveja tem que ser abandonado. É por isso que tratei este tema de modo especial.

O tema de curar doenças

Quando falo de curar doenças, não é para ensinar a fazer isso. Todos os genuínos discípulos do Falun DaFa não podem curar pessoas. Se você fizer isso, meus Fashens pegarão de volta todas as coisas do Falun DaFa que plantei em seu corpo. Por que este tema é considerado tão seriamente? É porque prejudica o DaFa, sem falar no quanto arruína seu corpo. Há pessoas que, depois de tratarem alguém, ficam ansiosas para fazer isso novamente; querem curar todos aqueles que elas encontram pela frente, querem se exibir. Não é um apego? Isso afeta seriamente o cultivo das pessoas.

Há muitos falsos mestres de qigong que, aproveitando-se do desejo da pessoa de aprender qigong para curar os outros, ensinam isso. Eles dizem que é possível curar doenças emitindo qi. Não é uma piada? Você tem qi assim como os outros. Acaso o qi que você emite pode curar os outros? Quem sabe, o qi do outro seja mais poderoso!? Qi não tem o poder de restringir qi! No cultivo de alto nível, o que a pessoa desenvolve é gong; o que ela emite é matéria de alta energia, que certamente pode curar restringindo a doença, mas não pode eliminar a raiz a doença. Para verdadeiramente curar é preciso ter capacidades sobrenaturais. Para cada doença há uma capacidade sobrenatural específica de cura. Digo que há mais de mil tipos de capacidades sobrenaturais específicas para curar. Para cada doença, há uma capacidade de cura correspondente. Sem essas capacidades sobrenaturais, ainda que saiam flores de sua mão, é inútil.

Nos últimos anos, alguns fizeram do mundo do cultivo um caos. Daqueles verdadeiros mestres de qigong que vieram a público para ensinar às pessoas como se curarem de doenças e fortalecerem a saúde – que vieram para abrir e preparar o caminho –, algum deles ensinou às pessoas a curar os outros? Eles apenas removiam suas doenças ou ensinavam-lhe uma prática para restaurar a saúde. Eles lhe ensinavam exercícios de qigong para que você mesmo, praticando-os, pudesse curar a si mesmo. Depois apareceram esses falsos mestres de qigong que bagunçaram tudo. As pessoas passaram a aprender e usar o qigong para curar os outros, para tratar pacientes, e assim, atraíram futis – foi definitivamente assim. Naqueles anos, alguns mestres de qigong curaram pessoas, mas só o fizeram sob as circunstâncias especiais daquela época; foi em sintonia com o fenômeno celestial daquele período. Porém, qigong não é uma técnica de pessoa comum e, além disso, eles só fizeram aquilo durante o período em que tais mudanças no fenômeno celestial ocorriam; foi só naquele período. Mas, depois, esses falsos mestres se especializaram em ensinar a curar os outros e isso instalou o caos. Uma pessoa comum pode, em três ou cinco dias, se tornar capaz de curar? Alguns afirmam: “Posso tratar esta ou aquela doença”. Digo que todos os que fazem isso têm futi. Sabe o que eles têm nas costas? Futi. No entanto, eles não o sentem nem sabem disso, inclusive, eles se sentem bem e pensam que têm habilidades especiais.

Os genuínos mestres de qigong tiveram que cultivar arduamente durante anos e anos para serem capazes de curar. Pense um pouco: você diz que cura pessoas, mas será que você tem realmente o poder sobrenatural necessário para eliminar o carma dos outros? Você recebeu ensinamentos genuínos? Como se tornou capaz de curar depois de apenas dois ou três dias? Com suas mãos de pessoa comum, você acha que pode realmente curar os outros? Esses falsos mestres de qigong exploram suas fraquezas e seus apegos humanos. Você não quer curar? Pois bem, eles organizam cursos para lhe ensinar técnicas de cura, tais como agulhas de qi, emissão de luz, descarga de qi, compensação de qi, acupressão, o método de agarrar. As técnicas são diversas, mas o objetivo é sempre o mesmo: pegar o seu dinheiro.

Agora vamos falar sobre o método de agarrar. Vemos a situação: por que as pessoas adoecem? A causa fundamental das doenças e dos infortúnios é o carma. O campo do carma, uma matéria preta, tem natureza yin e é algo mau. As entidades más também têm natureza yin e também são pretas; é por isso que elas vêm para o corpo, pois um ambiente assim lhes é propício. Essa é a causa fundamental de as pessoas adoecerem, é a principal causa das doenças. Claro, há também outras duas formas de carma: uma, são entidades extremamente microscópicas que formam aglomerados de alta densidade de carma; outra, resulta do carma acumulado pelos antepassados e que vem através de um tipo de tubo; é algo raro, mas existe.

Falemos de doenças comuns. No lugar do corpo humano onde há um tumor, uma inflamação, um “bico de papagaio” ou coisa do tipo, em outra dimensão, numa dimensão bastante profunda, lá, reside uma entidade inteligente. Um mestre comum de qigong ou alguém com capacidades sobrenaturais comuns não pode vê-la; ele só pode ver que nesse lugar do corpo há qi preto e, onde há qi preto, pode haver doença. É correto dizer que no lugar do corpo onde há qi preto há uma doença, no entanto, o qi preto não é a causa da doença, mas sim o campo gerado pela entidade que reside nessa dimensão bastante profunda. Alguns falam de expulsar o qi preto, falam de purgá-lo. Vá em frente, expulse-o o quanto puder! Ele será gerado novamente logo em seguida. Algumas entidades são poderosas e podem inclusive recolher rapidamente o qi expulso do corpo. Tratamentos comuns simplesmente não funcionam.

Pessoas com capacidades sobrenaturais podem ver que, no local da doença, há qi preto, que é um qi patogênico. Do ponto de vista de um médico da medicina tradicional chinesa, nesse local, os canais de energia estão congestionados, o que impede que o qi e o sangue fluam. Do ponto de vista de um médico da medicina ocidental, no local, há uma ulceração, um tumor, um bico de papagaio, uma inflamação, etc., pois é dessa forma que se manifesta nesta dimensão. Depois que essa entidade é retirada, você descobre que não há nada de errado no corpo desta dimensão. Não importa se é uma hérnia de disco ou um bico de papagaio, depois que a entidade é removida e o campo se dissipa, quem estava doente ficará bom e, se você tirar uma outra radiografia, verá que a protuberância já não existe. A causa fundamental da doença era precisamente uma entidade produzindo esse efeito.

Alguns dizem que em três ou cinco dias é possível aprender a curar; eles lhe ensinam o método de agarrar. Mostre-me o seu método de agarrar! O ser humano é o mais débil, enquanto a entidade é muito feroz. Ela pode controlar sua mente e brincar com você como se você fosse uma marionete, pode matá-lo facilmente. E você diz que pode agarrá-la! Mostre-me como? Com suas mãos de pessoa comum você não pode nem mesmo tocá-la. Se você agarrar aqui e ali cegamente, ela o ignorará e rirá de você atrás de suas costas, pois seus gestos sem alvo são ridículos. Mas se você realmente tocá-la, lesionará sua mão no mesmo instante e será uma lesão real! Vi pessoas cujas mãos eram aparentemente normais; os exames médicos não mostraram nada de anormal em seus corpos ou suas mãos, no entanto, elas simplesmente não podiam sustentar a mão; a mão ficava dependurada; vi pessoas assim. Se sua mão de outra dimensão for lesionada, sua mão ficará paralisada. Quando aquela mão está lesionada, é uma paralisia real. Alguns me perguntam: “Mestre, posso ainda praticar? Fui esterilizado ou uma parte de meu corpo foi removida”. Digo que isso não é um problema, pois seu corpo em outra dimensão não sofreu nenhuma cirurgia e, na prática dos exercícios, é aquele corpo que desempenha a função. Por isso, digo que, se você tentar agarrá-la e não puder tocá-la, ela o ignorará, mas se a tocar, você possivelmente lesionará a sua mão.

Para apoiar as atividades de qigong em grande escala, em âmbito nacional, levei alguns de meus discípulos para participar da Exposição Oriental de Saúde, em Pequim. Nas duas vezes que participamos, fomos o destaque. Na primeira, nosso Falun DaFa foi honrado com o título Estrela das Escolas de Qigong, na segunda, foram tantos os que nos visitaram que não houve como atender todos. Nos outros estandes não havia muitas pessoas, no entanto, o nosso estava sempre cheio de gente. Havia três filas: a primeira era de pessoas que haviam se inscrito previamente para o tratamento da manhã, a segunda era de pessoas que esperavam para se inscrever para o tratamento da tarde e a terceira era de pessoas que aguardavam para obter o meu autógrafo. Por que fizemos isso se não tratamos doenças? Foi para contribuir com a causa de apoiar nacionalmente, em grande escala, o qigong. Foi por isso que participamos.

Reparti meu gong entre os discípulos que levei comigo. Dei uma porção de meu gong a cada um deles, um bloco de energia composto de mais de cem tipos de capacidades sobrenaturais. Selei suas mãos, mas ainda assim, a mão de alguns foi mordida a ponto de formar bolhas e sangrar; isso aconteceu várias vezes. Essas entidades são ferozes. Como você se atreve a pensar em tocá-la com suas mãos de pessoa comum? Além disso, você não conseguiria alcançá-la e agarrá-la, porque isso não é possível sem certas capacidades sobrenaturais. Na outra dimensão, a entidade saberá o que você quer fazer assim que você pensar em pegá-la. Antes de você iniciar o movimento para agarrá-la, ela já terá fugido. E assim que seu paciente for embora, ela voltará imediatamente ao corpo dele e a doença continuará. Para lidar com essas entidades é preciso ter uma capacidade sobrenatural com a qual, ao estender a mão, “bam”, você a retém lá. Em seguida, é preciso usar outra capacidade sobrenatural, mais poderosa, chamada de o “grande método de capturar a alma”; por meio dessa capacidade é possível arrancar o espírito-original da entidade para assim imobilizá-la. É uma capacidade sobrenatural usada para esse propósito e, quando a usamos, devemos direcioná-la à entidade. Como sabemos, o tatagata mirou a tigela em sua mão na direção do Rei Macaco e este, mesmo sendo enorme, tornou-se instantaneamente pequeno. Essa capacidade sobrenatural faz isso. Não importa o tamanho da entidade, ela torna a entidade pequena para que você possa agarrá-la e detê-la em sua mão.

Além disso, para agarrar a entidade de modo a removê-la, você não pode introduzir sua mão carnal no corpo da pessoa, pois perturbaria a mente das pessoas comuns. Fazer dessa maneira não é permitido e, ainda que seja possível, não é como é feito. A mão que entra no corpo é a da outra dimensão. Suponha que alguém tenha uma doença no coração. Enquanto sua mão física move-se fora do corpo em direção ao coração, sua mão da outra dimensão penetra rapidamente o corpo, agarra a entidade e volta trazendo-a para que, então, a mão que está fora também se feche agarrando-a e, juntas, mantenham presa a entidade. Ela é muito feroz e tenta constantemente perfurar a mão para poder escapar; ela morde e berra. Ainda que pareça pequena quando presa em sua mão, se você a soltar, ela se tornará muito grande. Não é algo que qualquer um possa fazer. Sem essas capacidades sobrenaturais, não é possível fazer isso. Não é simples como você imagina.

É possível que essa forma de cura pelo qigong seja permitida no futuro, pois existiu no passado, porém, há uma condição: a pessoa que a usar deve ser um cultivador. Por compaixão, durante o cultivo, um cultivador pode curar umas poucas pessoas boas, mas não pode erradicar o carma delas, pois não possui suficiente poderosa virtude para tanto. Embora a doença desapareça, a tribulação ainda permanecerá lá. Um pequeno mestre de qigong, um mestre comum, é um cultivador que não obteve o Tao. Ele só é capaz de adiar a doença ou talvez transformá-la em outra tribulação ou desgraça. Além disso, se ele cultiva num sistema no qual quem cultiva é a consciência-assistente, ele próprio não sabe que existe esse processo de adiamento, pois quem realmente faz as coisas é a consciência-assistente. Praticantes de alguns métodos de gong tornaram-se famosos, no entanto, assim como muitos renomados mestres de qigong, eles mesmos não têm gong, pois o gong cresceu no corpo do espírito-original-assistente deles. Algumas pessoas podem tratar doenças durante o cultivo, porque permanecerão no nível em que estão; elas praticarão durante uma década ou décadas sem ir além desse nível; elas podem tratar doenças durante a vida toda. Isso é permitido porque elas permanecerão no nível em que estão. Porém, os estudantes do Falun DaFa não podem curar doenças. Ler este livro para alguém doente pode curá-lo se ele aceitar, entretanto, os resultados variam de acordo com a quantidade de carma de cada um.

O tratamento nos hospitais e o tratamento pelo qigong

Vamos falar agora sobre a relação entre o tratamento nos hospitais e o tratamento pelo qigong. Alguns médicos da medicina ocidental, pode-se dizer que a maioria, não reconhecem o qigong. Eles dizem: “Se o qigong pode curar doenças, então, para que manter hospitais? Assumam a função dos hospitais!”, “Se com o qigong vocês podem curar doenças só com as mãos, sem recorrer a injeções, medicamentos e hospitalizações, não será ótimo se vocês assumirem o papel de nossos hospitais?”. Esse argumento não é nem razoável nem racional. Há pessoas que não entendem o que é o qigong. Em essência, o tratamento pelo qigong não é igual aos métodos de tratamento convencionais das pessoas comuns. Qigong não é técnica ou habilidade de pessoa comum, é sobrenatural. Como permitir que algo sobrenatural interfira em grande escala na sociedade humana comum? Os budas são poderosos, podem acabar com as doenças humanas com um simples movimento de mão. Então, por que eles não fazem isso? Há incontáveis budas e são misericordiosos, por que então eles não o curam? É porque o nascimento, o envelhecimento, a doença e a morte são condições da sociedade humana comum e envolvem relações causais e predestinadas. É o ciclo de retribuição do carma. Se você deve, você tem que pagar.

Se você curar alguém, será como violar esse princípio, porque ele não terá de pagar o mal que fez aos outros. Pode funcionar assim? Um cultivador, enquanto não tem poder suficiente para erradicar a causa da tribulação, durante seu cultivo, pode misericordiosamente curar pessoas. Uma vez que surge o coração de misericórdia, é permitido fazer isso. Claro, se você é realmente capaz de erradicar a causa da tribulação, você não tem permissão para isso, principalmente em grande escala, porque afetaria gravemente o estado da sociedade humana comum. Substituir os hospitais das pessoas comuns pelo qigong não daria certo, pois o qigong é um Fa sobrenatural.

Se na China fossem abertos hospitais de qigong – supondo que isso fosse permitido – e grandes mestres de qigong começassem a tratar pacientes, o que você acha que aconteceria? Isso não é permitido, pois todos devem salvaguardar o estado da sociedade humana comum. Mas supondo que fossem abertos hospitais de qigong, clínicas de qigong, centros de reabilitação de qigong, complexos hospitalares de qigong, se isso acontecesse, então a eficácia dos tratamentos desses mestres de qigong diminuiria drasticamente, o poder de cura de seus tratamentos diminuiria imediatamente. Por quê? Porque estariam fazendo coisas para pessoas comuns, portanto, que devem estar de acordo com a altura do Fa do nível das pessoas comuns. Por isso, a eficácia de cura seria igual à dos hospitais. O tratamento pelo qigong deixaria de funcionar eficazmente e eles também começariam a falar da necessidade de várias sessões terapêuticas para tratar doenças. Seria assim.

De qualquer forma, com ou sem hospitais de qigong, ninguém pode negar que o qigong pode curar. O qigong popularizou-se na sociedade já faz algum tempo. Sem dúvida, muitas pessoas conseguiram se curar e fortalecer o corpo por meio da prática de qigong. Não importa se o mestre de qigong adiou a doença empurrando-a ou se a transferiu, pois, de um modo ou de outro, a doença desapareceu. Não há como negar que o qigong pode curar. A maioria das pessoas que recorre aos tratamentos de mestres de qigong padece de doenças desconhecidas e complicadas, que não podem ser curadas em hospitais. Elas vão a mestres de qigong para tentar a sorte e, como resultado, são finalmente curadas. Particularmente no início, as pessoas pensavam: “Quem pode ser curado num hospital não vai a mestres de qigong”. O qigong pode curar, mas isso não pode ser feito do mesmo modo como é na sociedade humana comum. Interferir em grande escala não é permitido, mas é permitido em pequena escala, discretamente e sem influenciar. Os tratamentos pelo qigong não podem curar erradicando a doença, com certeza. O melhor modo de alguém se curar e restaurar a saúde é praticando qigong.

Há mestres de qigong que dizem que os hospitais não podem curar doenças, que a eficácia dos tratamentos é baixa, que há efeitos colaterais. O que dizemos a respeito? Há várias razões para isso. A meu ver, a razão principal é a deterioração dos valores morais humanos, que tem resultado em todo tipo de doenças desconhecidas e que não podem ser curadas nos hospitais. Os medicamentos não funcionam nesses casos e, além disso, há os falsos medicamentos. Tudo isso resulta da enorme extensão da corrupção na sociedade humana. Ninguém deve culpar os outros, pois todos colocaram lenha nessa fogueira, por isso, todos terão tribulações durante o cultivo.

Nos hospitais, ainda que eles não consigam diagnosticar algumas doenças, elas realmente existem, porque os sintomas mostram que a pessoa está doente. Algumas doenças nem sequer têm nome, pois não existiam e, nos hospitais, são chamadas de doenças modernas. Os hospitais podem curar doenças? É claro que sim. Se não pudessem, por que as pessoas confiariam neles e iriam lá para serem tratadas? Os hospitais podem curar, só que seus métodos de tratamento pertencem ao nível das pessoas comuns, enquanto as doenças vão além do humano. Algumas doenças são muito graves e os hospitais precisam tratá-las o quanto antes, pois pouco poderá ser feito se a doença estiver em estágio avançado; além disso, doses excessivas de medicamentos podem intoxicar. Os tratamentos médicos modernos estão num nível compatível com a nossa ciência e tecnologia e, por serem do nível das pessoas comuns, têm somente essa eficácia de cura. Há um ponto a esclarecer: tanto a cura pelo qigong comum como pelos tratamentos nos hospitais apenas adiam a tribulação – que é basicamente o motivo de a doença existir – para a segunda metade da vida ou mais adiante; o carma não é de nenhum modo tocado.

Falarei um pouco mais sobre a medicina chinesa. A cura pela medicina tradicional chinesa está intimamente ligada à cura pelo qigong. Antigamente, quase todos os médicos da medicina chinesa tinham poderes sobrenaturais. Sun Simiao, Huatuo, Li Shizhen, Bian Que, entre outros eruditos da medicina, tinham poderes sobrenaturais e isso está documentado nos livros de medicina. Entretanto, hoje em dia, a essência de seus conceitos é frequentemente criticada. O que foi herdado da medicina tradicional chinesa são apenas prescrições e coisas de experimentações. A antiga medicina chinesa era muito avançada; seu grau de desenvolvimento superou o da medicina moderna. Alguns pensam: “Como é avançada a medicina moderna! Com a tomografia computadorizada é possível ver o interior do corpo humano; há o ultrassom, o raios-x, etc.”. Embora os equipamentos médicos modernos sejam sofisticados, a meu ver, eles não estão à altura da antiga medicina chinesa.

Huatuo viu um tumor no cérebro de Caocao e quis abrir o crânio dele para remover o tumor. Caocao pensou que Huatuo queria matá-lo e, por isso, mandou encarcerá-lo. Como resultado, Huatuo morreu no cárcere. Quando a doença se manifestou em Caocao, ele se lembrou de Huatuo e mandou buscá-lo, mas Huatuo já estava morto. Pouco depois, Caocao morreu por causa do tumor. Como Huatuo sabia do tumor? É porque ele o viu. É um poder sobrenatural humano que os grandes médicos do passado tinham. Alguém com o tianmu aberto pode, a partir de um dos lados do corpo, ver simultaneamente os quatro lados do corpo humano. A partir da frente, ele pode ver simultaneamente a parte de trás, a esquerda e a direita; pode ver camada após camada e, além disso, atravessando esta dimensão, ver a causa fundamental da doença. Os modernos equipamentos médicos podem fazer isso? Estão longe disso, talvez em mil anos! Por meio da tomografia computadorizada, do ultrassom, da radiografia, também é possível ver o interior do corpo, mas o equipamento é grande, a pessoa não pode levá-lo consigo, e além disso, precisa de energia elétrica para funcionar. Como compará-los ao tianmu, que pode ser levado consigo para onde você for e não precisa de energia elétrica para funcionar!

Alguns falam sobre o quão maravilhosa é a medicina moderna. Eu digo que não é bem assim. Na antiga China, as ervas medicinais podiam curar assim que eram aplicadas. Muitas receitas se perderam, mas algumas ainda circulam em meio ao povo. Quando dei aulas na cidade de Qiqihar, vi alguém extraindo dentes das pessoas na rua. Notei imediatamente que ele era do sul da China, porque não se vestia como alguém do nordeste do país. Para todos os que pediam, ele extraía dentes. Ele extraiu uma pilha de dentes, mas seu maior propósito em extrair dentes era vender uma poção medicinal da qual emanava um forte e denso vapor amarelo. Para extrair dentes, ele procedeu assim: abriu um frasco com a poção, segurou-o do lado de fora da bochecha do paciente, bem no local onde o dente com problema estava, e, em seguida, pediu à pessoa para que aspirasse um pouco do vapor amarelo emanado da poção, que praticamente não foi consumida. Depois, tampou o frasco, colocou-o de lado, tirou um palito de fósforo do bolso e, enquanto fazia propaganda de sua poção, com o palito, deu um leve e ligeiro golpe no dente. O dente saiu facilmente e só com um pequeno filete de sangue. As pessoas não sentiam dor; não doía nem sangrava. Pensem nisto: um palito de fósforo pode se quebrar facilmente se utilizado com força, no entanto, ele extraía dentes com apenas um leve golpe de um palito.

Digo que algumas das coisas da antiga medicina chinesa que ainda circulam em meio ao povo são melhores que os sofisticados equipamentos da medicina ocidental. Vejamos o que é mais eficaz. Ele extrai dentes com um palito de fósforo. No entanto, um cirurgião dentista, para extrair um dente, primeiro, precisa anestesiar o local aplicando uma injeção; ele perfura aqui e ali e, às vezes, dói bastante. Depois de esperar a anestesia fazer efeito, com um alicate, ele começa a extrair o dente. Ele faz bastante força e, se ele não for cuidadoso, a raiz do dente poderá se quebrar e ficar presa na gengiva. Quando isso acontece, o dentista tem que usar um martelo e um cinzel para escavar até a raiz do dente. Os golpes fazem o paciente ficar ansioso e com medo. Às vezes, o dentista usa um instrumento auxiliar de precisão para perfurar o dente para assim poder tirar a raiz. Isso é suficiente para fazer o paciente se retorcer e se erguer na cadeira. Pode doer e sangrar muito, o paciente cospe sangue. Qual dos tratamentos você acha que é o melhor? Qual é o mais avançado? Não podemos nos deixar levar só pela aparência do equipamento e sim considerar sua real eficácia. A antiga medicina chinesa estava muito desenvolvida; a moderna medicina ocidental ainda demorará muitos anos para alcançá-la.

A ciência da antiga China era bem diferente da ciência moderna trazida do Ocidente, que, por ter tomado outro rumo, levou a outro tipo de estado. Não podemos entender a ciência e a tecnologia da antiga China com o nosso modo atual de entender as coisas. A ciência da antiga China focava diretamente o corpo humano, a vida e o universo; eles viam e estudavam diretamente as coisas. Era outra abordagem. Naqueles tempos, nas escolas, os estudantes praticavam meditação. Ao se sentarem, davam importância à boa postura. Ao escreverem com o pincel, eles ficavam atentos ao movimento interno do qi e à respiração. Em todas as profissões e ofícios eles davam importância a esvaziar a mente e ao ritmo harmonioso da respiração. Toda a sociedade encontrava-se nesse estado.

Algumas pessoas dizem: “Se tivéssemos seguido o caminho da antiga ciência chinesa, nós teríamos os automóveis e os trens que temos agora? Teríamos a modernidade que temos atualmente?”. Digo que da perspectiva deste ambiente, você não conseguirá entender outros modos de vida. Seus pensamentos e noções precisam, antes de tudo, passar por uma mudança radical. As pessoas não precisariam de televisões, pois poderiam ter uma em suas testas com a qual veriam o que quisessem; poderiam ter capacidades sobrenaturais como essa. Sem automóveis ou trens, as pessoas sentadas ali poderiam sair levitando por aí, não precisariam de elevadores. Seria outro tipo de estado de desenvolvimento. A sociedade não teria que necessariamente estar confinada ao atual contexto e estrutura. Os discos voadores extraterrestres se deslocam a velocidades incríveis e podem se expandir e encolher. O rumo de desenvolvimento que eles tomaram é bem diferente; é outra abordagem científica.